13 de abril de 2009

marioneta


- “Pareces um boi a olhar para um palácio”. Conhecem a expressão?

Adequa-se totalmente a mim, agora que me vejo no último dia de férias a tentar resolver desesperadamente os trabalhos de casa. Completamente rodeada de livros, folhas, fichas e fórmulas, sinto-me como o tal boi a olhar para um monte de pedras empoleiradas umas em cima das outras, construindo aquilo a que os outros chamam de monumento.
Velhos tempos em que eu agarrava nestas fichas de física e as olhava como um bom desafio, tentando ir ao além da minha inteligência para as resolver sem consulta. Agora, tenho duas à frente, livros abertos e fórmulas por todo o lado e não consigo fazer um único exercício sem me irritar e apagar os desenhos ridículos que faço enquanto penso numa solução para o problema. Sinto-me burra, sinto que não mereço nem metade da nota que tenho a esta disciplina e sinto-me perdida no meio de circuitos electrónicos e condensadores.

De certo modo, sinto-me o Pinóquio, só que o meu nariz (ainda) não cresce quando respondo afirmativamente a quem me pergunta se a escola está a correr bem. Sou também uma marioneta, que alguém comanda, e me manda todos os dias para a escola, sentar-me numa cadeira e ouvir monotonamente as vozes de quem ensina estas matérias incompreensíveis. Daqui a pouco, estarei ainda mais enterrada em conhecimento, afogada em derivadas de compostas e de logaritmos. Com um bocado de azar, ainda apanho em cima com uns poemas a que chamam de obra, escritos por esse (agora) maldito Fernando Pessoa.

Já nem me conheço. Antes era eu a dona da marioneta, levantava-me com vontade de ir para um edifício onde até me vejo encurralada por um monte de grades. Agradava-me estar lá, sentia até uma certa alegria quando ouvia o toque de entrada para mais uma excitante aula de física, onde estaria de olhos a brilhar, escutando e absorvendo todas as palavras da pessoa em que tenho tanto orgulho.
Agora, continuo encurralada num edifício, mas nem é isso que me realmente incomoda, mas sim o facto de não ter liberdade de movimentos, não poder sequer tirar os olhos do quadro ou do livro sem ouvir um raspanete do docente. Até os intervalos passam a correr, onde o meu tempo é gasto num cubículo cheio de alunos a comprar comida e um horrível cheiro a manteiga no ar.

Vai começar amanhã o último período do meu ensino secundário, não é nada que me alegre, pois apesar de a vontade de deixar tudo isto para trás até nem faltar, vão ser uns meses em que vou ter que fingir que estou a gostar das matérias e vou ter que lutar para ter uma mísera média para entrar num novo edifício, onde não há grades, mas há uns bons calhamaços para decorar a prender-me. Depois, quando todos estiverem a torrar ao sol na piscina, aqui vai estar a marioneta enterrada em livros, a estudar para uns exames nacionais nos quais tenho que cumprir os limites por mim impostos na nota final, ou não queira eu passar um ano a estudar algo ainda menos interessante do que estou a estudar agora.

Sinto-me ainda mais frustrada ao saber que, ao menos, a história do Pinóquio ainda teve um final feliz, livrou-se da marioneta. Vamos ver o que me acontece a mim.
Acho que é no dia em que o boi perceber que está a olhar para um palácio, que eu vou perceber estas matérias de electricidade.

Chegará o dia?

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