10 de abril de 2010

Era habitual discutirmos. Tão habitual. Era mais o amor falar do que os motivos que nos faziam gritar um com o outro. Esses, de tão estúpidos que eram, deixavam de fazer sentido assim que me abraçavas de novo. Não sem antes eu ter-te atirado com o sapato de salto alto e pontiagudo, não sem antes eu ter gritado, – Sai! – com toda a energia, não sem antes tu teres voltado as costas e bateres com a porta com quanta força tinhas. Não sem antes eu ficar com os olhos expectantes e vidrados na porta, toldados pelas lágrimas, só a pensar – Vais voltar, isto é cena de filme, nos filmes voltam sempre. Vais voltar, volta. – e voltavas mesmo. Com a cabeça cabisbaixa, sem me olhar nos olhos, agarravas-me, fazias-me sentir tão pequenina e a transbordar de amor, uma máquina de amor que vaporizava a todo o momento motivos para me agarrares assim, como se nunca me quisesses largar. Vais voltar sempre? “Claro que vou, desde que não mudes a fechadura, minha pateta.”. E assim ficávamos, embrulhados um no outro, com promessas de amor e chaves de casa com porta-chaves de criança. Era habitual discutirmos. Tão habitual. Lembras-te da última vez que gritámos assim? Mal sabia eu que desta vez não iria ter um sapato à mão e que iria atirar-te com o primeiro objecto que encontrasse. Acertou-te mesmo no peito. Olhaste os vidros espalhados pelo chão e apanhaste a fotografia. Foi no dia em que fomos ao Zoo e acabamos a discutir por causa de um amendoim, lembras-te? Tirámos a fotografia como que para encerrar aquele capítulo. Tinhas a fotografia na mão e olhei para ti – reage! – e reagiste. Saíste porta fora e bateste com a porta. – Agora vais voltar e vai ficar tudo bem. Como sempre. – Petrifiquei o olhar na porta. – Já devias ter voltado. Volta! – Não regressaste. Nem naquela noite, nem em nenhuma. Mas era habitual discutirmos. Tão habitual. Levaste a fotografia e encerraste mais um capítulo. Eu?

Mudei a fechadura.

14 comentários:

  1. chorei! foi como visionar tudo na minha cabeça, tal e qual como num filme.
    adorei o texto, está incrivelmente sentido. gostei mesmo :')

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  2. oh , foi num jantar do meu tio ( ele só tem 19 , estudou em Soure ) e eu estava sentada entre duas pessoas que te conheciam , então ouvi e só depois percebi quem era , pela descrição .. ora bem , não me escapa nada x)
    ah , quem estava a falar era o Daniel Fernandes , um rapazinho de Condeixa , creio que namorou com uma amiga tua , uma tal Diana , ou assim . e ao meu lado estava outra moça loirinha , de perto de Soure , a Ângela (:
    mas isto é aqui só para nós , que até estamos a falar por comentários no blog como se ninguém os lesse (A)

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  3. Que texto mais bonito !
    e agora é necessário tb tu mudares de capitulo e reagir ..

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  4. oh , o meu tio é um amigo desse Daniel que estudou lá na ESMA , Flávio Fernandes .
    não creio que nos conheçamos , mas percebi pelo que eles disseram :O

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  5. é , diz que ele é mais ou menos um fofinho (a)
    oh , a minha cabeça é normal (:

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  6. eu também tremia um bocadinho , aliás , tremia sempre que ele chegava perto de mim , porque como temos pouca diferença de idade andávamos sempre de burro um com o outro , mas crescer é bom e , pelo menos eu , apercebi-me de que gosto muito dele (:
    quanto a andar de carro , ao início tinha vontade de vomitar :O mas agora sinto-me sempre segura .

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  7. mudaste a fechadura e deste-lhe a chave?

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  8. Não dei a chave a ninguém , anónimo , tenho-a eu , quem eu quiser que entre , convido-o a tal , agora já não há chaves para ninguém .

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  9. Estes anónimos dão-me náuseas . :)

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  10. Adoro ver-te a chorar.
    Gosto msm muito de ver-te triste!!
    Ahahah

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  11. O teu grande problema é que não estás comigo todos os dias para veres como sou feliz , ignorante . Inveja ?

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  12. Estô cágândo p'ra você anônimo .

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