14 de fevereiro de 2009

efemeridades


Não sei bem quando começou. Talvez, saiba, mas só talvez. Faz parte do meu passado, mas preenche o meu presente e assombra o meu futuro. Torna o meu caminho assustador, um trilho escuro, cheio de pedras no caminho e a sensação de que o perigo está sempre à espreita, pronto para me fazer tropeçar uma vez mais.

Uma aula de Português normal, analisando e estudando “Os Lusíadas”. Sim, parecia apenas uma aula como as outras. Ouvia a professora, mas o meu pensamento não estava ali, naquela sala. No entanto, algo nas palavras da professora me chamou a atenção e virei-me para ouvir: “como é que podemos ter esperança em algo tão efémero?”.
Uma pergunta retórica e simples mas, que no entanto, me ocupou a cabeça o resto da aula. A verdade daquela interrogação atingia-me o coração com uma crueldade cortante. É tão real. É tão simples, como é que eu não pensei nisso antes de ter dado o passo em frente? Como é que pude acreditar em algo que ia terminar mesmo antes de ter começado?

Fui ingénua, sim fui. Eu sei que fui. Foi algo tão breve, tão fugaz. Mudaste a minha vida, entraste nela quando andava eu aos trambolhões, marcaste a diferença, abanaste o meu mundo. Apareceste no momento certo, mas também desapareceste no momento errado. Sinceramente, nem sei se existe um momento certo para teres partido. Sei. O momento não existe. Nunca devias ter saído, nunca devias ter tornado os nossos momentos o objecto do meu pensamento ao ouvir as palavras sábias e experientes de alguém mais velho. Nunca devia pensar em ti como algo efémero. Nunca devia? Talvez devesse. Porque és, ou foste. Foste breve, foste algo tão passageiro – assim o quiseste.
Este dia sempre me deixou um vazio no corpo, e mais este ano. Agora. Quem me dera poder carregar no “delete” de todos os nossos momentos, apagá-los para sempre, ou pelo menos, por hoje. Hoje, que te olhei nos olhos ao longe e só vi indiferença. Hoje, que vi o teu jeito de ser, os teus gestos, a tua espontaneidade, a tua alma. Hoje, que te admirei e os meus olhos brilhavam, contra a minha vontade, com o pensamento vago nas palavras proferidas. Hoje, dia de S. Valentim. Logo hoje.

E agora, oh maldição, agora. Que enquanto escrevo, começaram os acordes da música. A música, a música que ouvíamos, a nossa música. Quero parar de ouvir, quero parar de escrever e por a mão no rato para desligar este som que me enche os ouvidos e me parte o coração. “ ’Cause I never really knew it was the ending, But I shoulda seen it from the begining”. Mas não sou capaz e ouço até ao fim, com a dor a alastrar-se por todo o meu peito e a exprimir-se fisicamente, através da água que surge nos meus olhos.
Fazíamos amanhã 4 meses. Odeio este dia. Odeio este dia por tudo o que foi. Desde o inicio até ao fim, que está prestes a chegar. O fim do dia.
Tudo tem um fim. Mas eu não me lembrei de aplicar isso a nós. E agora é tarde, o fim veio e eu não o esperava.

Efemeridades. Tantas, e eu não pensei em ti.

3 comentários:

  1. essas aulas de português...
    como sei bem a peça que são...
    pouco ou nada melhor estava eu nela.
    O dia de s. valentim já passou, para trás fica um vazio deixado por alguém que se ocupa com dúvidas e mais dúvidas...

    ResponderEliminar
  2. Gosto muito deste blogue ;) Parabens ;) beijinhos

    ResponderEliminar
  3. obrigada pelo comentario e pelo elogio..
    beijinhos, gostei imenso dos textos que li

    ResponderEliminar